terça-feira, 22 de julho de 2014

Excelentíssimo - Rubem Alves

"Ando pesquisando coisas antigas da terra onde nasci, Dores da Boa Esperança, à procura de vestígios da minha infância. Pois ontem, fuçando umas pastas velhas, encontrei lá uns jornais de antigamente, muito antes de eu nascer. Acho que os médicos de hoje fariam bem em se informar sobre os remédios daquele tempo que eram muito mais maravilhosos que os remédios de agora. Hoje, quando se toma um remédio, não se sabe quem o fez. Não há, portanto, um jeito de fazer a reclamação à pessoa responsável, caso o remédio não funcione. Naqueles tempos, os remédios traziam no rótulo o retrato do inventor da poção curativa. Tal é o caso do miraculoso remédio Elixir de Nogueira, um “santo remédio”, eficaz no tratamento de “escrófulas, darthros, boubas, inflamações do útero, corrimento dos ouvidos, gonorrhéas, fístulas, espinhas, cancros venéreos, rachitismo, flores brancas, úlceras, tumores, sarnas, rheumatismo em geral, manchas da pelle, affecções do fígado, dores no peito, tumores nos ossos, latejamento das artérias” (jornal A Esperança, Dores da Boa Esperança, 23 de outubro de 1927, p. 4). Agora me digam: que remédio moderno pode se comparar ao poder curativo do Elixir de Nogueira, atestado pela foto do dr. Nogueira, grande bigode retorcido nas pontas, óculos, colarinho e gravata? Os óculos sempre foram marca dos cientistas. Cientista sem óculos não é digno de crédito... Mas, examinando as notícias no miúdo nota-se que todas as pessoas eram “excelentíssimas” e “ilustríssimas”. Os que viajavam eram sempre o ilustríssimo senhor Fulano de Tal com sua excelentíssima esposa... Os juízes eram “meritíssimos”, isto é, portadores de méritos incontáveis. Contou-me um juiz amigo que numa audiência numa cidade do interior o advogado insistia em chamá-lo de “meretríssimo”, tratamento insólito que lhe causou sério problema facial: ele não sabia se o advogado estava a ofendê-lo, chamando-o de “filho da puta”, caso em que ele deveria fechar a cara, ou se o advogado era apenas um pobre-diabo que não sabia o sentido das palavras, caso em que o seu rosto se abriria numa risada... Incapaz de concluir, ele optou pela postura indiferente, clássica no rosto dos juízes. Mas o que me levou a esta excursão foi o fato de um “meretríssimo”, convencido da sua grande importância, haver entrado na Justiça com uma ação contra os funcionários do edifício em que mora, posto que eles, ignorantes da sua excelência, não o tratavam com os devidos “doutor”, “excelentíssimo”, “ilustríssimo”. Esse juiz, ao que me parece, coloca paletó e gravata para defecar e usa fraque e cartola para perpetuar os coitos exigidos pelas obrigações conjugais, se é que o faz. Imagino que ele seja juiz por competência, isto é, passou nos exames. O que é prova cabal de que o conhecimento das leis não é garantia da sabedoria do juiz. Como dizia um homem sábio, na cidade onde nasci, “duas são as coisas em que não se pode confiar: bunda de criança e cabeça de juiz...”. Se ele deu entrada nessa ação, imagino, é que deve haver dispositivos legais para obrigar as pessoas ao tratamento devido, meritíssimo, magnífico, reverendíssimo, ilustríssimo, excelentíssimo, doutor. Pergunto aos conhecedores da lei se não haverá dispositivos legais que punam pessoas que usam títulos sem possuí-los. Um bacharel pode colocar placa de doutor? Engenheiro é doutor? Lembro-me de um homem, também lá em Minas, que queria ser doutor a qualquer preço. Para ele, ser doutor era ter diploma de engenheiro agrônomo. Tirou o diploma. Mas o tiro saiu pela culatra. De caçoada, deram-lhe o apelido de Zé Doutor. Quando vejo escrito na capa de um livro, como autor, Doutor Fulano de Tal, não consigo esconder o riso. É uma pena que a lei não tenha provisões para punir a estupidez e a presunção".

Nova sessão no blog, gente: agora postarei textos ou trechos de livro que eu gostar. Na verdade já fiz isso uma ou duas vezes, mas agora vai ser mais frequente. Espero que gostem! 

Esse é um texto que tem no livro "ostra feliz não faz pérola", do Rubem Alves (lindo!). Recomendo o livro todo. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Keep dreaming


That's why I will never ever stop dreaming and working on my dreams :)

"Eu prefiro olhar para trás em minha vida e dizer 'eu não acredito que eu fiz aquilo' ao invés vez de dizer 'eu queria ter feito aquilo'. É por isso que eu nunca vou parar de sonhar e trabalhar em meus sonhos".

Nada é impossível! Nós podemos e devemos lutar pelo que acreditamos sempre.

Façamos um semana incrível! Bom dia!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quase 6 meses


Gente! Daqui a uns dias vou completar 6 meses do meu "1 ano sem compras" (dia 17). Não caí em tentação nenhuma vez! Na verdade pra mim tem sido muito fácil, porque eu nunca fui uma pessoa consumista, não tenho desejos incontroláveis de comprar. Só livros, mas como tenho vários em pdf pra ler no Kindle e evito ir à livrarias (a minha preferida é a Saraiva e morro de preguiça de ir no Shopping) também não tem sido difícil. 

Me pergunto se o fato de ser fácil pra mim, e isso tornar bem menos desafiador, se eu não deveria simplesmente deixar pra lá... Estou com uma vontade enorme de comprar uma blusa há meses (baratinha para os padrões brasileiros!). Penso em abrir apenas uma exceção pra ela já que não é uma vontade repentina, já está dentro de mim há muito tempo. 

Gostaria da opinião de vocês que também se interessam por vida simples e minimalismo. Devo deixa o projeto pra lá por não ser desafiador o bastante, ou devo apenas abrir essa exceção? Ou ainda, devo esquecer a blusa e seguir com a minha vida já que não preciso efetivamente dela? 

Estou bastante inclinada a abrir só uma exceção.

Ps.: Minimalismo não é só algo legal sobre o qual gosto de ler, mas um estilo de vida que sigo e quero seguir sempre mais, por isso essas reflexões são importantes pra mim.