quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Você não pode salvar ninguém


A gente nunca pode ajudar ninguém se a própria pessoa não enxergar que existe um problema.

Podemos dar mil murros em ponta de faca que se ela não decidir mudar por si mesma nada vai acontecer. Jamais poderemos salvar alguém de si mesmo.

Eu demorei pra perceber isso. E demorei mais ainda pra aceitar. É difícil acreditar que alguém que amamos não tenha "salvação". Mas é assim que a vida é.

Algumas pessoas são simplesmente difíceis de conviver. Mas penso que acima de tudo são difíceis pra si mesmas. 

Pessoas pessimistas, pessoas estressadas, pessoas capazes de contaminar toda energia do ambiente. 

Se fazem isso com os outros, imagina o que fazem consigo mesmas?


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Um dos meus maiores orgulhos: ter participado da ronda

Eu sempre senti necessidade de fazer algo pelas pessoas. Embora a gente normalmente tenha tendência de reclamar das coisas e se ver insastisfeito com a vida, eu sempre mantive meus olhos abertos aos problemas reais do mundo. Muitos de nós somos privilegiados, embora não gostemos de admitir isso. 

Não sei exatamente quantos anos fazem (a nossa memória pode nos trair de vez em quando), mas em algum momento do meu ativismo no movimento espírita eu decidi participar da ronda, que era um trabalho que um grupo de amigos fazia levando alimentos e ouvidos aos moradores de rua do Centro de Juiz de Fora. 

Lembro como se fosse hoje. Acontecia sempre nas terças-feiras, de 15 em 15 dias. Tinhamos um caminho pré-estabelecido que começava na antiga Av. Indepedência, em frente ao Banco HSBC e terminava perto do Santa Cruz Shopping. Se me lembro bem, começava por volta de 19h30 (ou 20h?) e terminava por volta das 22h/22h30. Era uma boa caminhada e encontravamos bastante gente. Geralmente levavamos pão com mortadela e suco ou leite com achocolatado dependendo da temperatura da época.

Aquele trabalho foi uma das coisas mais gratificantes que já fiz na vida. O mais impressionante era perceber que as pessoas faziam muito mais questão de conversar do que de comer. Muitas vezes deixavam o pão de lado e dedicavam vários minutos do tempo delas a nos contar histórias. Era nítido que mais do que comida, elas precisavam ser ouvidas. 

Essas pessoas passam despercebidas por muita gente. São simplesmente ignoradas pela sociedade. Me entristece dizer que muitas vezes passam despercebidas por mim também. Nossos condicionamentos são muito fortes. 

Muitas vezes era difícil segurar as lágrimas diante das histórias que eles contavam. Muita gente que se viu em meio às drogas e achou melhor abandonar a família a trazer mais sofrimento para eles. Muitos que foram simplesmente expulsos por esses mesmos problemas. Alguns que perderem tudo. 

Nunca vou me esquecer de uma senhora em especial. Acho que aprendi muito com ela. Embora não me recorde de nenhuma história específica, ela me marcou de uma maneira muito forte. Dona Carmen... ela estava sempre catando papel em uma certa altura da Av. Getúlio Vargas. Era uma pessoa sábia. Especialmente dadas as circunstâncias. Me lembro que não tinha todos os dentes e estava sempre com o cabelo preso e cheio daqueles cabelinhos pra cima. Tinha um sorriso lindo (apesar da falta dos dentes) e sempre ficava muito feliz quando chegávamos. Se fechar os olhos ainda consigo ver seu rosto. Tinha um carinho especial pelo Vinícius e braços sempre abertos pra um abraço especial. Cada vez que conversávamos era uma lição de vida.

Poucos meses atrás eu a vi em um ponto de ônibus da Av. Rio Branco. Pensei, pensei e decidi cumprimentar. Ela estava conversando com uma moça. Eu as interrompi e ela obviamente não se lembrava de mim. Mas falei da ronda e ela lembrou do trabalho (e do Vinícius rs). Ela disse que sentia muita falta da gente e até das ruas, que teve um problema de saúde e agora tinha que ficar em casa. Fiquei muito feliz em revê-la, porque nem sabia se estava viva. 

Se um dia eu conseguir realizar meu sonho e propósito nessa vida (e de fato trabalhar com direitos humanos) vou dedicar minha conquista à Dona Carmen, que tanto me ensinou e provavelmente nem sabe.