sexta-feira, 18 de março de 2016

Um desabafo sobre empatia, individualismo e corrupção


Nesses dias de ânimos exaltados tenho pensado muito sobre empatia. Essa palavrinha carregada de tantas coisas boas. Empatia significa resumidamente a capacidade de se colocar no lugar do outro, de "sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela"*. Enfim, é algo que poucas pessoas tem se mostrado capazes de praticar.

A verdade é que quando alguém vem com o discurso de que determinada minoria pratica "mimimi" é pura falta de empatia. Quando se reclama da luta contra homofobia, machismo, racismo, por exemplo, tentando desmerecer tais movimentos, se está apenas demonstrando o quanto se é limitado intelectual e psicologicamente no sentido de não ter capacidade de sair da própria realidade e buscar se colocar no lugar do outro. 

Frases como:

- "Feminista é tudo chata, veem machismo em tudo, não posso nem cantar mulher na rua que sou tachado de machista" 
- "Não sou preconceituoso, mas não acho normal. Mulher com mulher até vejo, mas homem com homem, acho nojento"

Apenas demonstram o quanto alguns seres humanos são incapazes de enxergar além do próprio umbigo. 

Essa onda anti-corrupção faz parecer que este seria o pior problema do Brasil. Vamos colocar os pés no chão: ninguém em sã consciência vai sair por aí defendendo corrupção, mas achar que ela é o maior problema do país e que é praticada apenas por um partido é não apenas ignorância, mas em alguns casos até falta de caráter e hipocrisia. 

A corrupção me parece muito mais efeito do que causa de qualquer problema. Sua causa me parece residir muito mais na falta de empatia e no individualismo. As pessoas só se juntam e fingem pensar umas nas outras quando um "inimigo comum" é construído - seja um regime, uma pessoa ou uma "chaga social". Mas no dia-a-dia, todos querem vantagens para si, querem se dar bem e parecem não se importar com o resto do mundo. 

Enquanto não houver uma mudança cultural, na educação, na forma como as pessoas enxergam umas as outras, nada vai mudar. Enquanto o sistema for burocrático num nível em que seja mais difícil se ajustar a ele do que viver à sua margem, em que o "jeitinho brasileiro" seja comemorado, em que não exista empatia nenhuma pelo próximo, em que as pessoas continuem achando que podem determinar como as outras se sentem ou deveriam se sentir diante de situações preconceituosas, nada vai mudar de fato. Aliás, ainda é possível que as coisas piorem. 

Já passou da hora das pessoas refletirem com a própria cabeça e não com a cabeça dos outros, de colocar "a mão na consciência" e avaliarem os próprios defeitos e de que forma podem ajudar o país e o mundo. 

Com esse texto, não quero atacar ninguém, acho que é mais um desabafo do que qualquer outra coisa. São apenas reflexões de alguém que se cansou de ver tanta gente incapaz de enxergar para além do próprio mundinho limitado.